A amendoeira está em flor, rosa, branca, radiosa.
Era ali que teria o seu encontro há semanas combinado, perto das ruínas do velho castelo.
Deixou-se escorregar e sentou-se no chão, com as costas apoiadas na árvore mais bela do horizonte. Mirou o relógio. Ela estava atrasada mais de meia hora.
Será que a mãe não a deixara sair?!
Como ele gostava do seu cabelo cor de avelã entrançado e rematado por elásticos com laçarotes vermelhos.
Tinham só 12 anos e ela era mais alta mas ele nem se apercebia disso. Aos seus olhos, ela era a menina mais bonita da escola. Desde a primária que admirava o seu sorriso cândido e as suas bochechas sardentas, embora alguns meninos troçassem com ela, chamando-lhe “pintadinha”.
Aquelas sardas eram mágicas, adormeciam-lhe o olhar. E os vestidinhos com folhinhos brancos que teimavam em sobressair por baixo do bibe? Uma delícia...
E ela corava sempre que ele se aproximava. O dia em que mais corou foi quando ele lhe ofereceu um malmequer que colhera no caminho para a escola.
Aquela menina povoava-lhe os sonhos desde a sua mais tenra infância e não sabia porquê, não compreendia porque lhe via tamanha beleza. Provavelmente, não era para compreender, apenas para sentir.
E como gostava de falar com ela, embora as conversas tenham sido poucas, ora porque ele não sabia sobre o que conversar, ora porque ela insistia em corar.
Mas uma coisa era certa, aquela menina enchia-lhe o peito de um formigueiro que apenas terminava na barriga. Encantava-o e por ela esperaria até ao anoitecer, até ter a certeza de que ela não apareceria...
Mas ela apareceu... Ainda trazia as trancinhas que o enfeitiçavam, mas não o bibe.
Era hoje ou nunca. Tinha que lhe dizer que ela era a menina mais bonita do mundo, que sonhava com ela mesmo acordado. Ela que corasse! Tinha chegado a hora de confessar o que não conseguia guardar mais para si.
Mas quando ela se aproximou, de sorriso tímido e laçarotes cor de morango a rematarem-lhe as tranças, percebeu que isso não seria suficiente...
Assim, roubou-lhe um beijo... Pequenino, suave e doce como as amêndoas que floresciam por cima das cabeças de ambos. Nesse segundo nem pensou. Quando abriu os olhos foi assaltado pelo receio dela se ter zangado... Mas não, ela abriu os seus olhos, já depois dele, e sorriu com sabor a mel, mesmo de bochechas coradas... A seguir fugiu. Correu pelo campo até lhe desaparecer da vista...
Ela também gostava dele, tivera a certeza.
Com aquele primeiro beijo ficara a transbordar de alegria. Se abrisse a boca para falar gaguejaria, seguramente. Valera a pena esperar.
Todos os domingos esperava debaixo da amendoeira, mesmo que já não tivesse flores.
A grande árvore continuaria a ser para sempre a mais doce das suas lembranças. E aquela menina seria para toda a eternidade o seu primeiro amor.
OBS.: Texto de ficção escrito e ilustrado por mim
5 comentários:
O primeiro amor é sempre tão bonito!
Adorei,como sempre Amiga!
Beijocas
Obrigado!
Também tenho essa ideia romântica do primeiro amor... Sei que nem todos assim são mas...
Beijocas
Um amor na flor da inocência,um beijo carinhosamente roubado, uma ternura
bjs
Era precisamente essa a ideia... Envolto num cenário floral... Cheio de rosa, branco... e bochechas coradas...
Bjs
putz, adorei a ilustração
assim como o texto.
nossa, tudo muito sutil...
um grande abraço aê,
visite meu blog,
tbm ilustro e escrevo.
http://garfosemdentes.blogspot.com
abraços do Felipe Godoy
Enviar um comentário