sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Árvore de Verão

Ela estava no início do Verão da sua vida. Pelo menos, era suposto que estivesse. Mas sentia-se uma árvore um pouco murcha, como se tivesse saltado uma estação sem dar conta. Parecia que vivia em pleno Outono, já perto até de um qualquer Inverno. As suas folhas tinham amarelecido depressa demais e estavam presas por muito pouco. De vez em quando, vinham fortes rabanadas de vento que ameaçavam despi-la, desnudá-la de verdade.
Um dia, o que temia aconteceu. Uma tempestade avassaladora cercou-a, derrubando portas, janelas, fazendo voar telhados de vidro. E as suas folhas de árvore fora do tempo foram as primeiras a acompanhar os fortes ventos que se fizeram sentir.
Ela encolheu-se, tremeu de frio, pensou que estava perto do fim. Chorou, sentiu-se a desfalecer e caiu por terra, sentando-se à espera da morte. Do Inverno que a quebraria. Sem esperança, sem sonho.
Eis que num novo despontar de dia ela reparou que o céu estava muito azul, muito límpido, que os raios de sol brilhavam ferozmente e que a aqueciam... como que a protegendo-a e a afastando-a da estação fria. Então, sem pressas, olhou em sua volta e viu beleza. Viu cor, calor, pessoas, mar... Era Verão. O seu Verão, aquele que parecia ter saltado. Sim, que da Primavera viu-se de seguida num triste Outono.
Os morangos salpicavam os campos verdes de vermelho. As maçãs e os figos surgiam.
A vida amadurecia mas docemente e a seu tempo.
Cada mês um fruto.
Era o auge, o apogeu.
Os dias carregados de brilho, de luz... As noites estreladas e abafadas de vida. Uma estação afrodisíaca.
E ela... Ela, afinal, sem se aperceber, ganhara tanta folha verde e viçosa... Irradiava. Tinha um belo porte, capaz de deslumbrar mas também de oferecer sombra. E ainda não tinha idade para ser abatida, para ser arrancada. Tinha muito para dar e muito para secar.
Era uma árvore no Verão...
Uma árvore que absorvia o calor do dia, que tinha arrepios com a brisa mais fresca da noite, que renascia a cada gota de orvalho depositada na madrugada.
Ela era uma árvore feliz, com os sentimentos à flor da pele.
Pronta para amar.
Pronta para uma vida inteira... Uma vida em que o Verão fosse longo, quente e memorável.
Escrito e ilustrado por mim

5 comentários:

Pandora disse...

Decididamente uma árvore inspirada e inspiradora.

Anónimo disse...

Esta árvore recorda-me algo...
Tantas vezes sentimos que estamos num inverno frio, e sem sol á vista... de repente o sol brilha por entre as nuvens, e faz-se uma pequena brecha...
Gostei muito...bjs

Sara V. disse...

Pandora,
Obrigado por um elogio inspirado:)

Sara V. disse...

Sandra,
Esta árvore foi inspirada em sentimentos que às vezes marcam o ritmo de certas conversas. Conve rsas de árvores cheias de folhas ainda verdinhas:)
Bjs

Anónimo disse...

Sara,em qualquer jardim...floresta...em qualquer lugar,mesmo parecendo estéril,há uma esperança para se erguer uma árvore.
A tua árvore...é vida,é esperança,é amor...e ás vezes faze-mo-la crescer.
gosto muito da tua pintura,desenhos.
ès uma artista!
Um beijinho

RS(dolce)